O estilo gótico designa uma fase da história da arte ocidental, identificável por características muito próprias de contexto social, político e religioso em conjugação com valores estéticos e filosóficos e que surge como resposta à austeridade do estilo românico. Este movimento cultural e artístico desenvolve-se durante a Idade Média, no contexto do Renascimento do Século XII e prolonga-se até ao advento do Renascimento Italiano em Florença, quando a inspiração clássicaquebra a linguagem artística até então difundida.
Os primeiros passos são dados a meados do século XII em França no campo da arquitetura (mais especificamente na construção de catedrais) e, acabando por abranger outras disciplinas estéticas, estende-se pela Europa até ao início do século XVI, já não apresentando então uma uniformidade geográfica.
A arquitetura, em comunhão com a religião, vai formar o eixo de maior relevo deste movimento e vai cunhar profundamente todo o desenvolvimento estético..O nascimento do estilo, mais que o seu desaparecimento, pode ser definido cronologicamente com clareza, nomeadamente no momento da reconstrução da abadia real de Saint-Denis sob orientação do abade Suger entre 1137 e 1144. Esta abadia beneditina situada nas proximidades de Paris, em França, vai ser o veículo utilizado à comunicação dos novos valores simbólicos: por um lado a dignificação da monarquia, por outro a glorificação da religião. Este empreendimento tem por objectivo apresentar o maior centro patriótico e espiritual de toda a França, ofuscando todas as outras igrejas de peregrinação, trazendo para si mais crentes e restabelecer a confiança entre a igreja e o seu rebanho.
Para materializar esta ideia várias fontes e influências terrenas vão ter de ser, no entanto, bem contabilizadas e fundidas. A cabeceira (zona este da igreja) vai ser emprestada das já existentes igrejas de peregrinação, com ábside, deambulatório e capelas radiantes, assim como a utilização do arco quebrado de influência normanda. A técnica construtiva dá também neste momento um avanço significativo contribuindo com a abóbadade nervuras (sobre cruzaria de ogivas) e que vai permitir uma maior dinâmica e flexibilidade de construção. O impulso destas abóbadas vai ser recebido por contrafortes no exterior do edifício, libertando o espaço interior e dotando-o de uma leveza extraordinária.
Mas mais que uma junção de elementos, o estilo gótico é afirmação de uma nova filosofia. A estrutura apresenta algo novo, uma harmonia e proporção inovadoras resultado de relações matemáticas, de ordens claras impregnadas de simbolismo. Suger, que é fortemente influenciado pela teologia de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, aspira uma representação material da Jerusalém Celeste. A luz é a comunicação do divino, o sobrenatural, é o veículo real para a comunhão com o sagrado, através dela o homem comum pode admirar a glória de Deus e melhor aperceber-se da sua mortalidade e inferioridade. Fisicamente a luz vai ter um papel de importância crucial no interior da catedral, vai-se difundir através dos grandes vitrais numa áurea de misticismo e a sua carga simbólica vai ser reforçada pela acentuação do verticalismo. As paredes, agora libertas da sua função de apoio, expandem em altura e permitem a metamorfose do interior num espaço gracioso e etéreo.
O espaço é acessível ao homem comum, atrai-o de uma maneira palpável, que ele é capaz de assimilar e compreender, o templo torna-se o ponto de contacto com o divino, um livro de pedra iconográfico que ilustra e ensina os valores religiosos e que vai, a partir deste momento, continuar o aperfeiçoamento da mesma.
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